terça-feira, 20 de setembro de 2011

“Malditos” BUS

Um destes dias recusamo-nos a andar de autocarro. O que deveriam ser viagens tranquilas, de pura contemplação e relaxamento, transforma-se, invariavelmente, num manancial de histórias – pequenas e grandes – que nos sentimos impelidos a contar.
Saímos da homenagem a Simón Bolívar directos para o terminal de transportes. Três minutos, contados, de ar condicionado que valeram os dois euros da efémera corrida de taxi.
Prometido um bus directo. Até Cartagena das Índias. Até foi. Directo a partir do momento em que encheu. Até lá, paragem em todos os locais possíveis – e impossíveis – e imaginários.
Ao longo das 4,5 horas de viagem – que derraparam facilmente para as 5,5 – sobraram vendedores de snacks a entrar no bus a apresentar a odorosa mercadoria. Não pagavam bilhete. Agradeciam com bebida ou comida ao motorista e cobrador. No fim da jornada, cada um já com um saco de viveres.
A tarde estava tórrida e demos vivas pelo ar condicionado. Bom, a felicidade durou até que o exagero do refresco nos levou a bater o dente. Compulsivamente. E suspirar pela saudosa sauna do ambiente exterior. Há algo de errado com os ares condicionados na Colômbia. Algo não funciona. Mesmo!
Seguimos a costa e por nós desfilam fantásticas praias desertas. Pelicanos e garças. E outras aves para nós desconhecidas. Homens em tronco nu a pescar. Sem barco. Na zona em que as ondas morrem. E vende-se peixe e todo o tipo de mariscos ao preço da chuva. À face da estrada.
Brigada de trânsito manda-nos parar. Todos saem. BI’s locais todos em ordem. Falta ver os dois tugas. Zé Luís despachado em dois tempos. Passaporte a expirar, tirou um novo e este foi o primeiro carimbo. No meu, página a página. Lentamente. A tentar perceber de onde eram os múltiplos carimbos.
Acabou a tarefa e não viu o da Colômbia. Fez essa observação. Com ar severo. Perguntou por onde e quando entrei no país. Disse-lhe que viemos juntos. Peguei no passaporte. Encontrei o carimbo.
Desejo de boa viagem. “Y que Diós vos bendiga”.
Shakira não estava na sua agitada Barranquilla natal. Felizmente, só de passagem andamos na sua orla.
Via com quatro faixas. Duas para cada lado. Senhora idosa empurra filha em cadeira de rodas. Não há condições para deficientes motores se deslocarem. Nem ao longo nas vias, nem nos apinhados transportes públicos. É obrigada a ir no confuso trânsito entre barulhentos e poluidores carros e autocarros. Surreal.
Já atrasados. Toca a seguir.
Pouco depois, autocarro abranda. Vê-se homem desesperado a pedir ajuda. Metros à frente, um cavalo terá fracturado a perna. Puxava carroça carregada. Não há outra solução além do abate.
Animal, em visível pânico, tenta levantar-se. Desesperadamente. Parece que adivinha o destino. Não consegue sair do chão. Doloroso qualquer cenário de animais em sofrimento.
O filme de acção termina. Mudam-no por DVd de pretenso humor. Não cola. Otários a fazer de parvos. Ou palhaços a julgar-se humoristas. Ainda estamos na dúvida.
Preces ouvidas. DVD mudado. Por concerto. Em casamento. Vídeo amador. Pior. Suplicamos pelo regresso das hilariantes piadas. Pleeeeaassseeeeeee!!!
Cobrador em namorisco nas escadas de entrada. Não liga ao nosso desespero.
Confusão total lá fora. Estrada esburacada. Centenas de autocarros, carros, motas, animais, pessoas… tudo amontoado num cenário caótico.
Terminal de transportes. Cartagena das Índias.

Sem comentários:

Enviar um comentário