quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Colômbia, porque “La vida es un ratico”

“Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”.

Gabriel Garcia Marquez


Tinha sido avisado. Disso não me posso queixar. Por amigos que tiveram a fortuna de visitar a Colômbia. E pelo “alerta” do turismo do país: “O perigo é querer ficar”.

A vida é um “ratico”. É, também por isso, que a Colômbia deve fazer parte de uma das viagens da nossa vida. o quanto antes.
Confesso que não levei demasiadas expectativas. Como sempre, deixei-me levar. Sem ideias preconcebidas (sim, com o novo Acordo Ortográfico é assim que se escreve). Apenas com sugestões de lugares a visitar.
Na verdade, a Colômbia surpreendeu-me. E de que maneira! Poucos países, escassos lugares têm a capacidade de nos exaltar os cinco sentidos. Ao mesmo tempo, raríssimos. Pois bem, experienciei momentos de sonho. A ilusão levou-me pela mão, mostrou-me pessoas fantásticas e lugares que julguei inatingíveis.

Sobram paisagens deslumbrantes. Locais de incrível beleza. Mas foi nos colombianos que encontrei as maiores riquezas. Nunca um povo me surpreendeu e “deu” tanto.
Ao dizerem-me que a sociedade local está estratificada em seis níveis (económico-sociais), não quis acreditar. O dia a dia não mostra diferenças. Apenas sei que me abraçaram uma e outra vez com amizade desinteressada. Que senti na pele calor humano inigualável. Que experienciei respeito, altruísmo. Vi quem pouco ou nada tem dar mais do que qualquer bem material pode proporcionar. Encontrei valores humanos e sociais. Sorri com o prazer natural dos colombianos em fazer o bem. Sem nada esperar em troca. Sobrou gente boa. Sorrisos que nos preenchem o peito. Senti-me verdadeiramente em casa. Descalço. Despido
Não esquecerei rostos. Almas. Personalidades. Situações que, obviamente, não foram aqui relatadas.

Quando cigarras, trajadas em múltiplas quentes e vivas cores, desceram de árvores suspensas em magia, envolvendo-me com a sua melodia, jurava que tudo o resto não era material. Não podia ser. Mas é. Senti. Vi. Toquei. Saboreei. Toquei de novo. E outra vez. Tsh Tsh. Plim. Plão.

Deslumbrantes praias incrustadas na selva. Com branca e suave areia decorada por verdes e frondosas palmeiras. E beijada por cristalina água caliente. E um sol que não pára de nos sorrir.
Infindáveis e esbeltas montanhas. Fauna e flora diversificados. Que não param de nos surpreender. E contar histórias de um novo mundo. Um arco-íris de verdes. Impenetráveis. Mas saborosos e revigorantes. Frescos. Que ficam no palato.
Arquiteturas do impossível. E da história. O mais cativante dos estilos coloniais. O melhor de tempos difíceis. A injustiça passada transformada em beleza presente.
Gastronomia enriquecida por frutos e vegetais sem fim. De todas as cores. Para todos os sabores. E a alma que também se emprega na cozinha. E o quanto nos embriagou cada sumo de fruta até hoje desconhecidos por nós…
Invejei majestosos abutres, milhafres e águias. Por testemunharem da tribuna algo que apenas pude contemplar do alto de múltiplos teleféricos. Mas estive no solo, com os pés bem assentes no chão (será?), onde tudo acontece.

Amei. Amei. Amei.

Fui à Colômbia por amizade. Grande e infinita. Incondicional. Mas é por "Amor" que voltarei a este país. Deixou grande e vincada “huella” no meu coração.

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nada como um doce & pacífico regresso a casa

As doces memórias de duas fantásticas semanas ainda se passeavam felizes pela mente quando chegou o primeiro choque. Era o duro regresso à realidade. Um “murro” no estômago. Seguido de vários outros.
     Fila interminável no aeroporto. Vou espreitar. Sim, é mesmo da Ibéria (a pior companhia do Mundo). Dois voos para Madrid atrasados. No meu caso, mais de três horas. Das 20:20 para as 23:30.  
     Tentamos ligar à Chela para avisa-la que Zé Luís chegará a “casa” um pouco mais tarde. Não atende. Uma e outra vez. Mistério… Mais tarde percebemos que tínhamos copiado mal o seu número.
     Face ao atraso no voo, sei que perderei a ligação para Vigo. E que a próxima já me deixará sem transporte público da Galiza para o Porto. Além do impensável táxi.
     Tento, por isso, mudar a ligação. Vir diretamente para o Porto. Dizem que não o podem fazer em Bogotá. Nem no apoio ao cliente, nem no check-in me deixam fazer essa transferência.
     Insistem se é mesmo isso que quero. Fazer o check-in apenas até Madrid. Isso vai obrigar-me a um moroso processo alfandegário, recolha de bagagem e novo check-in para o destino final. “Despachar já tudo para Vigo seria bem mais fácil e cómodo para si”, insistem. Também eu o faço. Madrid. Apenas.
     Jantamos no aeroporto. Palavras da ordem. Um até já. Fotos da dupla para a despedida. Zé sem saber se Chela o espera. Eu sem imaginar o que viria depois.

     Tudo normal até nova revista de segurança para a sala de embarque. Sala cheia. Sistema raio-x pára com a minha mochila no interior. Não entra mais ninguém. Espaço lotado. Dezenas de leques. Rostos rubros. Passa uma hora. A segunda a terminar. Chegam paramédicos para assistir alguns passageiros que se sentem mal. Não havia ar condicionado.
Já me tinha safo, pois, com desculpa de conveniência, saí da sala. Preferi repetir os procedimentos de segurança e estar calmamente sentado na sala contígua.
    
Embarcámos com duas horas de atraso. Cinco no total. Passageiros saturados. Todos tentam dormir. A Ibéria, sensível à situação, acorda toda a gente às 03:00 para servir jantar. Ainda por cima, o pior alguma vez experienciado em voo. Petisco levemente e tento dormir.
     Nem duas horas depois, desperto com o sol. Vai começar o filme. Pego no auricular. Não tem som. Não funciona. Só a mim!! Até que percebo que… só a TODOS! Em todo o avião, ninguém tinha acesso ao áudio. Mesmo assim, vou acompanhando. Eu e outros impacientados por cinco horas de seca mais 10 horas de voo sem nada melhor que fazer. Filme fácil de seguir. De tirar a ideia. Começa a ficar interessante. Desligam o filme a meio e c’est fini. Sem explicações. Sim, a Ibéria não existe mesmo.
     À hora do já desejado almoço, servem o mísero pequeno almoço. Enfim…
    
Saltamos para Madrid. Apoio ao cliente com fila ENORME. O nosso voo não foi o único da Ibéria a ter problemas. Espero, impacientemente, duas horas até ser atendido. Após confusão entre filas. Bocas trocadas entre gente que apenas quer chegar a casa.
Digo-lhes que a conexão a Vigo me deixa sem transporte para o Porto. Peço-lhes troca de destino. Surpreendentemente, não colocam problemas. Mas querem enviar-me apenas no dia seguinte, de manhã. Fazer-me descansar em hotel. Digo-lhes que não. Que tenho compromissos inadiáveis na manhã seguinte. Insistem. “45 minutos daqui até à partida do voo é missão impossível”, dizem-me, com ar condescendente.
“Faço questão de tentar”, insisti.
Procurar a saída, passar pela zona alfandegária, descer para apanhar metro entre terminais, procurar mala no tapete, sair sem nada a declarar, subir para o terminal das partidas, novo check-in e caminhar 18 minutos (tempo estimado) para o terminal K era a missão impossível.
Corri com mochila às costas. Tudo “bem” até já não haver referencia no ecrã quanto às bagagens do voo proveniente de Bogotá. Ofegante, tiro dúvidas com polícia. Correr para sala 11 da Ibéria. A mala também ainda não tinha sido lá entregue. Dizem-me para procurar no tapete 1. Encontro-o. Não vejo a minha mala. Apetece-me partir tudo. Instantes depois, na curva do tapete que ainda rola, começa a desenhar-se um objeto tinto e preto. Não perco tempo a celebrar.
Subo dois andares. Procuro check-in Ibéria. Passo sob fitas de proteção. Para poupar míseros segundos. Mas não ultrapasso ninguém na curta fila. Segurança insiste que tenho de sair e voltar a entrar. “Pelo lugar adequado”. Mando-o pastar, educadamente, em espanhol. Insiste, respondo-lhe em português. E não me movo. Funcionário da Ibéria, compreensivo, entendeu a situação. Pegou no meu bilhete e chamou-me ao lado.
“O voo já está fechado. Lamento”.
Mas eu tenho bilhete…
Diz-me para seguir com mala e mochila. Assim faço. Passa tudo no raio X, menos as minhas botas. Descalçar e verificar que tudo está bem com o desgastado par que sempre me acompanha nestas.

Avião já deveria ter fechado… atrasou… ainda ninguém tinha embarcado.
Trio maravilha que já se tinha disponibilizado para ir a Vigo é avisado. Em telefone que me extorquiria três euros para escassos segundos. Bastaria reencontro no Porto.

Na Invicta, constato que o cadeado foi cortado e a mala violada…
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José Luís rumo à Costa Rica

Depois do caos, sempre consegui enviar o Rui de volta ao “trabalho”…
Fui ter com Chela que, como era de esperar, não falhou e estava à minha espera com a simpatia de sempre. Entre conversa, ver fotos e atualizar fotos do blogue, acabei por me deitar às 2 da manhã…
Por obra e graça do espírito santo acordo às 7:30 da manhã. O despertador não iria tocar, pois, apesar de estar programado, o tlm está “sem som”… bons augúrios ;)
Pequeno almoço de iogurte de pêssego, ovos revueltos, bolachinhas com sementes e uma “granadina”.
Despeço-me de Chela, apanho o táxi. Trânsito diminuto, estou no aeroporto num instante. Que diferença da noite anterior… Nada de confusões ou filas. Ao fazer o chek-in exigem vacina da febre amarela. “Sim, claro, aqui está o certificado internacional”. Assunto arrumado.
Mais uns instantes e “dirija-se à cabine 35 para a devolução dos impostos, por ter estado menos de 30 dias no país”. Assim fiz de não tardava estava com 62000 pesos colombianos (24 euros) na mão.
So far so good.
Sou mandado parar no primeiro controlo. Eu e outro turista no meio de 200. Sala escura, x-ray total, tudo em ordem. No segundo montes de perguntas. Até tive de dizer que tinha uma garrafa de vinho do Porto na mala. Lá lá me safei…
Não sei se do pequeno-almoço ou do creme de caramelo servido no primeiro voo (Bogotá-El Salvador-Costa Rica), estou com diarreia monumental, mal-estar do estômago all the way to San José. A caminho da farmácia, saiu tudo pela boca… Estou a pão e água. Amanhã, já como novo.
Para finalizar, o bus do aeroporto para o centro de San Jose teve um acidente. Mesmo no cruzamento que dava para o meu hostel…
Estou bem. A vida espera por mim.
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Derradeiras horas

Simón Bolívar é, inevitavelmente, nome do maior parque de Bogotá. É aí que principiamos o último dia. Novo pequeno almoço. Lago e natureza como cenários. E muitos desportistas madrugadores.

Comboio no horizonte leva a nossa conversa até Usaquén. No início da viagem, Chela tinha-nos aconselhado. “Tem o melhor artesanato de Bogotá”, assegurou.

Não tarda, estamos no autocarro para essa zona da cidade. Descemos. Passamos por uma primeira rua preenchida por tendas e vendedores. Karla diz-nos que o verdadeiro mercado é mais à frente. A uns 400 metros. Azar. Funciona apenas ao domingo. Novo café. Desta vez acompanhado por bolos. Estamos exaustos.

Paro em loja de artesanato. Apetece-me comprar tudo. Poucas vezes vi tantas cativantes peças como neste espaço. Faço elogio à senhora. Diz-me que abriu “tienda” há um ano. Que a sua sócia está a pensar abandonar. A zona não é muito concorrida. Mas que ela está determinada a persistir no projeto. Incentivo-a. Digo-lhe todas as boas vibrações que a loja me inspira. Segura-me na mão. Agradece a minha gentileza uma e outra vez. Faço-a ver que não é gentileza, mas a pura verdade. Bendiz-me até que os nossos olhares se separam pela primeira esquina.

Já não sei ao certo a que horas tenho o meu voo. Posto de turismo ao ar livre. Respiram simpatia. Ajudam-me e oferecem-me computador para consultar “lo que desear” na internet.

20:20 Bogotá/Madrid. Mas primeiro, há que tratar da fome. Almoço tardio. Caldeirada de mariscos, sugerida pelas meninas. Em restaurante especialista na matéria junto à casa de Karla. Deliciosa. Mas, com a mistura de queijo derretido, a ameaçar despertar intensa atividade intestinal.

Ligo para meu pai. O senhor Barreira Baptista completa 69 anos. Meu peito dividido entre o tormento de não estar com ele, como sempre, neste dia especial, e o terror de estar a horas de abandonar um país e gente que me vão marcar para sempre.

Ouço a sua voz melhor do que nunca. Afinal, não há distância que nos separe.

Estamos na rua. Transito intenso. Taxista vê-nos de malas. “Deixei a minha mãe e filha na rua em sentido contrário e disse-lhes para apanharem o autocarro. Para o aeroporto o trânsito está mais fluído…”, justificou, minutos mais tarde, o taxista.

Uma e outra vez, troca de abraços. E beijos. E promessas de “até já”. Olhares esbatem-se progressivamente com a distância, até que aeroporto é o único caminho…
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Lets go?

De teleférico, vamos comprar os bilhetes para a viagem mais tarde. A vista esvoaçante da cidade a vestir-se de entardecer é fantástica.

Pensámos viajar para Bogotá ao final da noite, mas Lethi insiste nas 21:00. Chegaremos cedo, mas insiste. Tal como em apostar antes num mini-bus para apenas 25 pessoas. Sabia que nos íamos arrepender…

Abraços e olhos vidrados ficam para trás. Voamos de novo entre Base Camp e terminal de bus.

Tinha razão: o mini-bus tem lugares bem mais pequenos. E muito menos confortáveis. Vamos contorcidos. E, onde eu e Zé nos sentamos, o ar condicionado marou. Inevitável. Perseguição até ao fim.

Entre incontáveis curvas, vamos avançando para Bogotá. Manas oferecem-nos manta para minorar o frio. Gentilmente, declinamos. Só no fim da viagem percebemos que era uma manta extra. Não iam passar mal por nossa causa. GRRR!!!!

04:15 e já estamos em Bogotá. Ups… correu bem demais. Ou seja, correu mal. Esta não é boa hora para chegar a lado algum.

Vamos ao pequeno almoço. No terminal. À nossa volta, este é feito de pratos quentes. Arroz. Batatas. Feijão. Muita carne. Não seguimos o exemplo.

Karla e Lethi vão para casa. Hora de despedida. Nossos braços já se afastaram, beijinhos já foram trocados e são dados primeiros passos rumo ao adeus definitivo.

“Porque não nos ligam daqui a uns 45 minutos? Tomaremos um banho, vamos ter convosco e passaremos o dia juntos?”, atira Karla.
“E porque não vêm antes connosco e deixam as malas no teu quarto (em casa alugada)?”, acrescenta Lethi.

O ultimo capítulo desta empatia, afinal não o era…
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Empatia e gratidão



S. Pedro não foi amigo. Tínhamos dois dias para ver os Nevados de Ruiz. Um dos maiores desejos desta aventura. Não foi possível. Mais um motivo para voltar à Colômbia.

De Chipre, a vista alcança toda a região. É o ponto mais alto de Manizales. O monumento aos descobridores é das mais belas, significativas e completas obras de arte que já vi.

Lentamente, vamos descendo a encosta. Em direção ao mercado. Uma arena amarela. Mistura intensa de cores e odores. Vamos para as verduras. Uma lição sobre frutos tropicais. Nova embriaguez de sumos naturais.

O destino danificou seriamente a catedral por duas vezes. Mas o mesmo destino fê-la manter-se firme. Subimos ao ponto mais alto. Algumas centenas de escadas. A vista circundante justifica plenamente o esforço.

É dia de partir. Queremos oferecer algo a quem tanto nos deu. Fazemos o que melhor sabemos, cozinhar (bom, temos outros dons, mas este é dos mais reconhecidos “internacionalmente”).

Uma mistura de mariscos. Legumes. Pasta. Sabiamente cozinhados e apresentados. Vinhos colombianos não nos convenceram totalmente. Três nações representadas no grupo de seis, entretanto sete convivas. Austrália pareceu-nos boa escolha para o tinto.

Enquanto almoçámos, novo sinal dos céus: grande tempestade reduz a zero a visibilidade do Base Camp para a parte baixa da cidade.

“Não queremos que se vão embora”, ouvimos. Mais do que uma vez. Gerentes do hostel oferecem-nos (a nós e costa-riquenhas) fruta, fios, pulseiras... E um olhar de empatia e saudade antecipada que não vamos esquecer.

“Quita-te las gafas”, diz-me carinhosamente Rosi. “Tens uns olhos e olhar bonitos. Devias experimentar usar lentes”, acrescenta. Não sabe, mas a sua doçura comoveu-me. Deste e de todos os gestos nestes escassos, mas marcantes dias. Fazem-nos prometer que voltaremos. Garantimos que nos veremos novamente.

Seguiremos para Bogotá. Oito a dez horas para cumprir menos de 300 quilómetros. A tempestade piorou ainda mais o estado da estrada que já tinha sido vítima de derrocadas nos dias anteriores.

Karla e Lethi seguem para Caldas. Há muito que ver na região.

Temos as malas prontas. Afinal, vamos ter companhia. Irmãs costa-riquenhas abdicam dos seus planos para nos acompanhar nas derradeiras horas na Colômbia.
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sábado, 24 de setembro de 2011

Magic under the stars

A visão era o sentido mais apurado. Mas as estrelas eram difíceis de seguir. Apreciar. Nuvens de fumo em espirais de sonho subiam até ao infinito. Vapores que aquecem corpo e alma.
Audição condicionada. Mas sente as envolventes melodias sul-americanas de fundo. Uns sentidos condicionados… apuram os outros.
Horas infindáveis... Picadinho de búfalo no meridiano da noite. Há dias perfeitos…
O mundo parou. O momento era exemplar. Nada como boiar neste quente cenário idílico. Nocturno. Termais de sonho, magia sob um fantástico céu estrelado.
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Colibris, mariposas e filhas do vento

Na tv são fantásticos. Ao vivo, divinos. Há centenas de espécies. Todas cativantes. Cafezinho colombiano na mão (mesmo não gostando, o cenário exigia-o), confortavelmente estendido em cadeirinha de casa de campo e flores a dois metros. Relaxados. Ouvíamos natureza pura. E duas dezenas de colibris a deleitar-nos.
Graciosos. Frágeis. Belos. Coloridos. Distintos. Cativantes. Adjectivos que sabem a demasiado pouco. Como todos os que possa encontrar para definir todos os encantos do Recinto do Pensamento, já fora de Manizales.
Avançamos. Hora de apreciar os diversos tipos de bonsai. Lição sobre como os tratar. E como definir as suas formas. Tentado a ter um. Muito.
Voltamos a nova fantasia. Mariposas. Recinto fechado, translúcido. Entramos. Borboletas de todas as formas e feitios. Esvoaçam. Bailam à nossa volta. Saúdam-nos com a sua candura. Incrível paleta de cores. Inclusivamente borboletas “transparentes”.
Isto não está a acontecer. Mas estava mesmo. O grupo de cinco não parava com as fotos. A visita eternizou-se. O mundo tem poucos fenómenos desta beleza.
De volta ao ar livre, caminho por bosque húmido. Onde múltiplos espécimes das “filhas do vento” povoam solos e (adaptadas às) árvores. Há no mundo 35.000 espécies de orquídeas. Na Colômbia, 3.500. Poucas flores exibem esta beleza.
No fim da visita – que começou, invariavelmente, com viagem de teleférico – surpreendidos por enorme avestruz. E uma zebra. Exemplares ilegalmente detidos por privados. E agora recuperados. Pablo Escobar tinha o mais completo dos zoológicos do país, em propriedade privada, em Caldas, na fazenda Nápoles.
Todos os sentidos pareciam preenchidos, mas o melhor ainda estava para vir…
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Karla & Lethi

Chegar a Manizales perto da meia noite e sem reserva de estadia não é das opções mais inteligentes. Mas, mais uma vez, a sorte protegeu-nos.

O Fernando logo nos deixou à vontade. Instalamo-nos. Bebíamos um chá quando uma dupla, que se revelaria infernal, regressou ao hostel. Karla e Lethi. Irmãs. Costa-riquenhas. Fernando teve muito com que se entreter com elas. Explicando-lhes tudo sobre a região. Mais tarde, tiraríamos proveito dessas informações.
Deitamo-nos quase ao mesmo tempo. Karla no beliche rasteiro, Lethi por cima e José Luís, dominador, no terceiro piso. Eu, em frente a eles, quase ao nível do chão.
O nosso dia madrugou. Acordou pouco depois das 05:30. Não estava nos planos. Duas miúdas que partilhavam o mesmo espaço connosco… sem palha no ninho. E não sabiam estar caladas.
Pequeno almoço igualmente madrugador. Lethi, gentil, traz-nos chá e os pratos. Gesto bem amável. Mando “boca” humorística oportuna ao Zé Luís sobre a matéria. Risada geral. Gelo imediatamente quebrado. Foi assim que tudo começou… doses de humor como nunca visto.
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Rumo a Manizales

Até Manizales eram cinco a seis horas em bus. Prometeram-nos quatro. Em luxuosa space wagon. Apenas sete lugares. Arriscamos. Até porque não queríamos chegar muito perto da meia noite. Não tínhamos reservado estadia. Como sempre.
O percurso é demasiado acidentado. E as curvas são incontáveis. Tal como os longos e luminosos camiões. O motorista não parece muito seguro. E não é. Hesita quando pode ultrapassar. Muda de faixa quando deve estar quieto.
Em curva cega, vai, hesitante, em contramão à espera que luzes denunciem carro do lado contrário. Ficámos – bem como outros veículos – mais do que uma vez cara a cara com monstruosos camiões (aqui, “mulas”). Que nos passariam a ferro sem problemas de maior.
Ninguém se preocupa ou teme. A não ser nós…
A bela jovem ao meu lado esquerdo cedo deu lugar a uma espaçosa senhora, com o seu filho de quatro anos ao colo. Após a paragem para jantar, lembrou-se que tinha tanto, tanto para me contar…
Começou, finalmente, a conversa. Não era casada, mas tinha três filhos do companheiro. Sexagenário. Vinte e tal anos mais velho que ela. Que partiu a perna. E agora está em Manizales, a ser tratado pela irmã. Embora ela mesma não trabalhe. Diz que não tem possibilidade de cuidar do companheiro. Conta-me a sua vida. De fio a pavio. Agora sobram os pormenores desinteressantes. Estou cansado. Dá-me sono. Imenso.
Fecho olhos. Cala-se um pouco. Acabo por adormecer. Até que me vai acordando de xx em xx minutos a recordar-me o tempo que falta para chegarmos. Pelo filhote, não a estrangulo ali mesmo.
Oferece-se para me dar número de telemóvel para quando voltar à Colômbia. Digo que não viajo de tlm e não tenho como apontar.
“Então partilharemos um táxi em Manizales. São uns ladroes. E assim reduzimos despesas”. ????
Aqui, o cu nada tinha realmente a ver com as calças. Acabamos por ir para locais próximos. O destino uniu-nos. Táxi minúsculo. Malas ao colo. Pagamos a nossa parte. O taxista levou-a de borla o resto do trajecto.
Base Camp. Late night. Fernando recebe-nos com simpatia. Lugar muito acolhedor. Camarata mista de seis lugares. Não temos alternativa. Nem pestanejamos.
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Parque Avri


No Prado 61 sentimo-nos mais do que em casa. Ainda por cima, enorme suite por nossa conta. Com vista apreciável para vários pontos da cidade.
Mas era dia de explorar o famoso Parque Avri. Metro. Azevedo. Mudar para teleférico. Subimos. Subimos. Subimos. Como anjos, dirigimo-nos aos céus. Medellin mostra-se numa outra dimensão. A área urbana mistura-se com outros municípios. Uma enorme mancha que se espalha pelas montanhas. Às quais ganha, sucessivamente, espaço.
Sob a nossa cabine vão passando bairros de lata. Densidade populacional vai diminuindo com as alturas. Barracas edificadas em lugares incríveis. E, juraríamos, inacessíveis.
Há uma bela e moderna biblioteca municipal no cimo. É aí que mudamos de teleférico. Vão ser mais 15 a 20 minutos sobre as montanhas mais altas. E um deslizar suave sobre copas de frondosas arvores. Um regalo para os olhos. Seiva para a alma.
Percebemos que demoraríamos dias a explorar Avri. Tem hotéis, parques de diversão, inúmeros trilhos. Infelizmente, não tínhamos todo esse tempo.
Escolhemos uma aventura pedonal. Até à Lagoa das Pedras Brancas. Belo passeio. O mapa ajudou a que escolhêssemos sempre o “sendero” certo. Sem desvios que nos fizessem perder no espaço e tempo.
Foi aqui, com a lagoa de um lado e do outro Medellin aos pés da nossa montanha, que fizemos o pic nic. Paz enorme. Toda aquela natureza só para nós. Apenas cruzamos com uma família guiada por guarda do parque.
No regresso, visitamos o ecológico quartel dos caribinieros. Na mesma montanha de Santa Helena. Um projecto fantástico. Em que nada de nocivo se produz para a natureza. Painéis solares. Excrementos dos cavalos utilizados para energia.
Os equídeos são puro sangue argentinos. Super bem tratados. E afáveis. Fizemos amiguinhos novos. Cães especialistas na detecção de drogas igualmente treinados aqui. Todos os animais com rigorosos horários de trabalho. Bem tratados e entendidos como parque da equipa que zela pelo bem publico.
Percebemos como enfrentam e se protegem quanto a eventuais problemas de segurança com guerrelheiros e terroristas.
Por tudo o que vimos e a forma interessada e empenhada como nos mostraram o seu mundo, as forças da ordem colombianas ganharam pontos. Aos que já tinham somado em experiências anteriores. Educação. Respeito. Profissionalismo.
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Prado 61



Descobrir o http://www.prado61.com/ foi aventura inesperada. No terminal bus fomos à net confirmar que era na calle 61. E vimos que Prado era a estação em que deveríamos sair. Assim o fizemos.
Chegando à rua 61, não havia qualquer indicação do lugar. Descemos. Subimos. Ninguém o conhecia. Estranho. Perguntavam, naturalmente, com que rua cruzava. Pois… não sabíamos ao certo. “É que a 61 tem quilómetros…”.
Procurar novamente internet. Já balizamos melhor o local. Ainda assim, sem rastro do mesmo. Que coisa complicada. Até que Diana, reluzente, vem à varanda e nos confirma que é ali mesmo. “Não temos qualquer indicação por questões de segurança”. Estamos em Medellin, não questionamos a opção.
Fernando Botero nasceu aqui. E é aqui que os seus conterrâneos podem apreciar variadíssimas das suas melhores obras. Ao ar livre. Em zona bem central. Alias, no coração da cidade. Estatuas polvilhadas em movimentada e prazeirosa praça. Como cogumelos selvagens.
Palmilhamos a cidade. A pé. Experimentamos novos sumos naturais. Naturalmente. Conversamos com vendedores de rua. Simpatia extrema de todos já não nos surpreende. Afinal, estamos na Colômbia.
Aproxima-se hora de jantar. Aconselharam-nos Pueblito Paisa. Subimos ao monte. Local bonito. Edifícios coloniais com personalidade. Mas não o local ideal para o repasto. Visto e revisto, novo táxi. Agora até à 70, onde nos prometiam inúmeros restaurantes e diversão.
Bandeja Paisa e Frijoles Rancheros. Ainda bem que estávamos em esplanada… J
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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quando a cabeça não tem juízo…


Quando há demasiado para ver e o tempo é escasso, o corpo é que paga. É violento, mas a Colômbia merece. 12 horas no bus nocturno de Cartagena das Índias para Medellin, que na Europa ficou famosa pelos carteis de droga. Quem não se lembra do “mártir” Pablo Escobar?
Uma viagem quase, quase tranquila. Ou não fosse noite. Acondicionei mal as duas mochilas que transportamos (além das famosas malas). E algumas compras para enganar o estômago não ficaram melhor guardadas.
Uma curva mais apertada… e eis que duas garrafas de 600 ml voam com precisão militar rumo à inocente cabeça da sexagenária que dormia no reclinado banco à minha frente.
Primeiro, o alívio. “Ufa, não morreu”. Depois, enfrentar a situação, nada agradável. Obviamente, um milhão de desculpas. E o desejo de sair daquele filme.
Era suposto chegarmos às 09:30 à cidade famosa por ter clima primaveril todo o ano. A essa hora paramos para tomar pequeno almoço. Duas horas mais tarde e milhão e meio de curvas depois, eis-nos, finalmente, em Medellin.
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Amor. Paixão. Loucura.



Paixão. Pura! Ao primeiro olhar. Confirmada no segundo, ao terceiro... Todo o encanto de tempos idos...
Depois de Buenos Aires, após Cusco, eis que a América do Sul nos arrebata novamente o peito: Cartagena das Índias.
Perder-me em elogiosos adjectivos é, ainda assim, diminuir a beleza desta cidade. Da parte antiga, amuralhada, entenda-se. Arquitectura colonial do mais belo que já vi. Varandas deliciosas salpicadas por todos os lados. Plantas a voar para a rua. Portas de invulgar criatividade. “Batedores” de portas fantasiosos. Cores fantásticas. E quentes. Aroma tropical. No ar. E nos caribenhos. Gente com sorriso do tamanho do mundo. Excelente comida. Praias divinas…
Ao primeiro jantar, apostamos na Casa Socorro. Um dos três restaurantes abertos pela famosa senhora Socorro. Sangue africano corre-lhe nas veias. Tal como muita inspiração na cozinha. Ambiente fantástico. Era dia de formatura no ensino superior. Múltiplos sorrisos em direcção à nossa mesa.
Também aqui, o peixinho é um must. Embora o ceviche não se possa comparar ao peruano.
Na manhã seguinte, as duas horas perdidas no hotel a ver o FCP a empatar 0-0 com aquele conhecido e poderoso clube começado por F foi a única coisa que lamentamos em Cartagena.
Não perdemos tempo com o tropeção. Sandra Molina já nos esperava. A nossa guia improvisada. Uma simpática, culta e comunicativa jovem universitária CS que se predispôs a mostrar-nos os encantos de Cartagena. E foram tantos…
Ao fim da tarde, já depois de nos termos perdido em “raspa’o’s” (gelados artesanais feitos na rua, com maquinaria antiga e a partir de gelo, com sabores vários e leite condensado) fomos comprar vinho e bebe-lo no alto da muralha. Enquanto testemunhávamos o sol a desfalecer naquele mar…
Lois, a americana de Manhattan, com 62 anos, mas saudável ar de quarentona, juntou-se-nos para jantar. Gato Preto foi a escolha. Não no menu.
Mais uma vez, uma refeição gravada na mente. E no palato. Conversa fantástica. Desta vez, vinho substituído por sumos naturais. Que perdição!! Já perdemos conta aos sumos naturais que bebemos neste país. Alguns, de frutos cujo nome jamais lembrarei.
Tempo de caminhar. Sempre de cabeça no ar. A apreciar a arquitectura desta cidade única. E bocas abertas de espanto a cada metro percorrido. Procuramos lugar para dançar…
O almoço seguinte, nova experiencia transcendente. La Mulata. Várias salas. Todas com temáticas diferentes. Todas cheias de gente viva. E com vida. Que vida! O sucesso é tal que se dá ao luxo de apenas servir almoços.
Aceitamos depois o desafio de Lois, que encontramos a passear: visitar o mercado central. O lado B de Cartagena. A lembrar os mercados de Marrocos. Mas longe de deixar a mesma saudade. De espalhar o mesmo encanto. Aqui, em Cartagena, é preciso andar de olho aberto e não perder amigos de vista. Mesmo durante o dia. Tínhamos sido aconselhados a desistir da ideia da visita. “Não é propriamente seguro”, garantiram-nos.
Ao fim da tarde, eu e o Zé fomos à zona das praias. A parte turística de Cartagena. Animação. Muita. E outra qualidade de vida.
Cartagena deixou impressão digital no nosso corpo. E marcou-nos a alma. Aqui encontramos de tudo. E gente maravilhosa. Como em todo o lado nesta cada vez mais surpreendente e apaixonante Colômbia.
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BZZZZzzzzz!!!

Sei que não sou um doce. Pelo menos um docinho. Se duvidas tivesse, Tayrona e os dias seguintes dissiparam-mas.
Não uso repelente de mosquitos. O Zé Luís encharca-se nesse líquido pegajoso. Assim sendo, por que raio leva ele com as picadas TODAS??? Mistérios da vida J eh eh
Não sou invejoso, mas ele é um egoísta. Ao chegar a Cartagena contamos mais de 20 picadelas… apenas entre o pé e o joelho direito. Mas picadelas visivelmente orgulhosas. Que deixam marca. E que marca!
O doce veneno chegou mesmo a provocar três bolhas enormes com encantador tom amarelo-alaranjado. O Zé mal podia andar. Baaahhh… um queixinhas!!
Fomos à farmácia. Optamos pelo método tradicional: rebentar as aleivosas com agulha e muita água do mar.
Resultou! Mas passadas umas horas, não era bonito ver o dito líquido viscoso descer e colorir os seus tornozelos. Nada que afectasse a MINHA boa disposição lol
Moral da história: Zé, para a próxima vez que gozes as dolorosas feridas provocadas pelos novos chinelos nos meus cândidos pezinhos, e que me limitaram em Tayrona, think twice!! J
As melhoras, companheiro!


PS: Sim, são plásticos que adaptamos aos meus pés para evitar que a areia me fizesse sangrar ainda mais..
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Special Breakfast

Despertamos com fome. Descemos para pequeno almoço. Há chá. E pãezinhos doces. Raquíticos. Pedimos recheio. “Não há. Acabou-se”. Então vá comprar, dissemos-lhe, de imediato.
Era domingo de manha. 07:00. Volta com duas manteiguinhas de mesa. Iguais às dos restaurantes.
Costumam dar arepas com ovo. Já só têm uma. No congelador. Quisemos experimentar. Mais valia termos estado quietos.
Clientes seguintes. Podem escolher entre sumo e pão (sem recheio) ou iogurte e cereais. Escolha óbvia. Pedimos igualmente a nossa parte. Pelo nosso descontentamento anterior, preferiu nem questionar.
“Que tipo de portátil é esse? Nunca vi um assim”, diz-nos, mais tarde, nova hospede. Lois é americana e viaja pela Colômbia. Trabalhou anos na Time magazine, mas já se reformou. Sobra-nos motivos de conversa.
O jovem Dilson interfere. Faz-nos perguntas. Conversa muda, momentaneamente, para espanhol. Tem nome brasileiro, mas é colombiano.
Há um comentário nosso a questionar, com duvidoso humor,  a capacidade linguista de nuestros hermanos. Dilson sorri. Avisa-nos que o seu amigo é nosso vizinho. Javier regressa à mesa. Será da nossa idade. É de Málaga. Serão familiares.
A conversa fluiu em inúmeros sentidos. Alternando as línguas. Quando a politica já nos chateava, cada um seguiu o seu programa de festas.
Lois, que ja esteve duas vezes em Portugal e vive em Manhattan, jantaria connosco nessa noite.

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“Malditos” BUS

Um destes dias recusamo-nos a andar de autocarro. O que deveriam ser viagens tranquilas, de pura contemplação e relaxamento, transforma-se, invariavelmente, num manancial de histórias – pequenas e grandes – que nos sentimos impelidos a contar.
Saímos da homenagem a Simón Bolívar directos para o terminal de transportes. Três minutos, contados, de ar condicionado que valeram os dois euros da efémera corrida de taxi.
Prometido um bus directo. Até Cartagena das Índias. Até foi. Directo a partir do momento em que encheu. Até lá, paragem em todos os locais possíveis – e impossíveis – e imaginários.
Ao longo das 4,5 horas de viagem – que derraparam facilmente para as 5,5 – sobraram vendedores de snacks a entrar no bus a apresentar a odorosa mercadoria. Não pagavam bilhete. Agradeciam com bebida ou comida ao motorista e cobrador. No fim da jornada, cada um já com um saco de viveres.
A tarde estava tórrida e demos vivas pelo ar condicionado. Bom, a felicidade durou até que o exagero do refresco nos levou a bater o dente. Compulsivamente. E suspirar pela saudosa sauna do ambiente exterior. Há algo de errado com os ares condicionados na Colômbia. Algo não funciona. Mesmo!
Seguimos a costa e por nós desfilam fantásticas praias desertas. Pelicanos e garças. E outras aves para nós desconhecidas. Homens em tronco nu a pescar. Sem barco. Na zona em que as ondas morrem. E vende-se peixe e todo o tipo de mariscos ao preço da chuva. À face da estrada.
Brigada de trânsito manda-nos parar. Todos saem. BI’s locais todos em ordem. Falta ver os dois tugas. Zé Luís despachado em dois tempos. Passaporte a expirar, tirou um novo e este foi o primeiro carimbo. No meu, página a página. Lentamente. A tentar perceber de onde eram os múltiplos carimbos.
Acabou a tarefa e não viu o da Colômbia. Fez essa observação. Com ar severo. Perguntou por onde e quando entrei no país. Disse-lhe que viemos juntos. Peguei no passaporte. Encontrei o carimbo.
Desejo de boa viagem. “Y que Diós vos bendiga”.
Shakira não estava na sua agitada Barranquilla natal. Felizmente, só de passagem andamos na sua orla.
Via com quatro faixas. Duas para cada lado. Senhora idosa empurra filha em cadeira de rodas. Não há condições para deficientes motores se deslocarem. Nem ao longo nas vias, nem nos apinhados transportes públicos. É obrigada a ir no confuso trânsito entre barulhentos e poluidores carros e autocarros. Surreal.
Já atrasados. Toca a seguir.
Pouco depois, autocarro abranda. Vê-se homem desesperado a pedir ajuda. Metros à frente, um cavalo terá fracturado a perna. Puxava carroça carregada. Não há outra solução além do abate.
Animal, em visível pânico, tenta levantar-se. Desesperadamente. Parece que adivinha o destino. Não consegue sair do chão. Doloroso qualquer cenário de animais em sofrimento.
O filme de acção termina. Mudam-no por DVd de pretenso humor. Não cola. Otários a fazer de parvos. Ou palhaços a julgar-se humoristas. Ainda estamos na dúvida.
Preces ouvidas. DVD mudado. Por concerto. Em casamento. Vídeo amador. Pior. Suplicamos pelo regresso das hilariantes piadas. Pleeeeaassseeeeeee!!!
Cobrador em namorisco nas escadas de entrada. Não liga ao nosso desespero.
Confusão total lá fora. Estrada esburacada. Centenas de autocarros, carros, motas, animais, pessoas… tudo amontoado num cenário caótico.
Terminal de transportes. Cartagena das Índias.
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