segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Derradeiras horas

Simón Bolívar é, inevitavelmente, nome do maior parque de Bogotá. É aí que principiamos o último dia. Novo pequeno almoço. Lago e natureza como cenários. E muitos desportistas madrugadores.

Comboio no horizonte leva a nossa conversa até Usaquén. No início da viagem, Chela tinha-nos aconselhado. “Tem o melhor artesanato de Bogotá”, assegurou.

Não tarda, estamos no autocarro para essa zona da cidade. Descemos. Passamos por uma primeira rua preenchida por tendas e vendedores. Karla diz-nos que o verdadeiro mercado é mais à frente. A uns 400 metros. Azar. Funciona apenas ao domingo. Novo café. Desta vez acompanhado por bolos. Estamos exaustos.

Paro em loja de artesanato. Apetece-me comprar tudo. Poucas vezes vi tantas cativantes peças como neste espaço. Faço elogio à senhora. Diz-me que abriu “tienda” há um ano. Que a sua sócia está a pensar abandonar. A zona não é muito concorrida. Mas que ela está determinada a persistir no projeto. Incentivo-a. Digo-lhe todas as boas vibrações que a loja me inspira. Segura-me na mão. Agradece a minha gentileza uma e outra vez. Faço-a ver que não é gentileza, mas a pura verdade. Bendiz-me até que os nossos olhares se separam pela primeira esquina.

Já não sei ao certo a que horas tenho o meu voo. Posto de turismo ao ar livre. Respiram simpatia. Ajudam-me e oferecem-me computador para consultar “lo que desear” na internet.

20:20 Bogotá/Madrid. Mas primeiro, há que tratar da fome. Almoço tardio. Caldeirada de mariscos, sugerida pelas meninas. Em restaurante especialista na matéria junto à casa de Karla. Deliciosa. Mas, com a mistura de queijo derretido, a ameaçar despertar intensa atividade intestinal.

Ligo para meu pai. O senhor Barreira Baptista completa 69 anos. Meu peito dividido entre o tormento de não estar com ele, como sempre, neste dia especial, e o terror de estar a horas de abandonar um país e gente que me vão marcar para sempre.

Ouço a sua voz melhor do que nunca. Afinal, não há distância que nos separe.

Estamos na rua. Transito intenso. Taxista vê-nos de malas. “Deixei a minha mãe e filha na rua em sentido contrário e disse-lhes para apanharem o autocarro. Para o aeroporto o trânsito está mais fluído…”, justificou, minutos mais tarde, o taxista.

Uma e outra vez, troca de abraços. E beijos. E promessas de “até já”. Olhares esbatem-se progressivamente com a distância, até que aeroporto é o único caminho…

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