Até Manizales eram cinco a seis horas em bus. Prometeram-nos quatro. Em luxuosa space wagon. Apenas sete lugares. Arriscamos. Até porque não queríamos chegar muito perto da meia noite. Não tínhamos reservado estadia. Como sempre.
O percurso é demasiado acidentado. E as curvas são incontáveis. Tal como os longos e luminosos camiões. O motorista não parece muito seguro. E não é. Hesita quando pode ultrapassar. Muda de faixa quando deve estar quieto.
Em curva cega, vai, hesitante, em contramão à espera que luzes denunciem carro do lado contrário. Ficámos – bem como outros veículos – mais do que uma vez cara a cara com monstruosos camiões (aqui, “mulas”). Que nos passariam a ferro sem problemas de maior.
Ninguém se preocupa ou teme. A não ser nós…
A bela jovem ao meu lado esquerdo cedo deu lugar a uma espaçosa senhora, com o seu filho de quatro anos ao colo. Após a paragem para jantar, lembrou-se que tinha tanto, tanto para me contar…
Começou, finalmente, a conversa. Não era casada, mas tinha três filhos do companheiro. Sexagenário. Vinte e tal anos mais velho que ela. Que partiu a perna. E agora está em Manizales, a ser tratado pela irmã. Embora ela mesma não trabalhe. Diz que não tem possibilidade de cuidar do companheiro. Conta-me a sua vida. De fio a pavio. Agora sobram os pormenores desinteressantes. Estou cansado. Dá-me sono. Imenso.
Fecho olhos. Cala-se um pouco. Acabo por adormecer. Até que me vai acordando de xx em xx minutos a recordar-me o tempo que falta para chegarmos. Pelo filhote, não a estrangulo ali mesmo.
Oferece-se para me dar número de telemóvel para quando voltar à Colômbia. Digo que não viajo de tlm e não tenho como apontar.
“Então partilharemos um táxi em Manizales. São uns ladroes. E assim reduzimos despesas”. ????
Aqui, o cu nada tinha realmente a ver com as calças. Acabamos por ir para locais próximos. O destino uniu-nos. Táxi minúsculo. Malas ao colo. Pagamos a nossa parte. O taxista levou-a de borla o resto do trajecto.
Base Camp. Late night. Fernando recebe-nos com simpatia. Lugar muito acolhedor. Camarata mista de seis lugares. Não temos alternativa. Nem pestanejamos.
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